Brasília Igualdade Racial

Tocando no Assunto – com Vilma Piedade

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Por Gisele Reis e Sandra Campos – Grupo Mulheres do Brasil Núcleo Distrito Federal

“Dororidade veio para dialogar com Sororidade.” Vilma Piedade

A professora e escritora Vilma Piedade, autora do conceito de ‘Dororidade’, a dor da violência que as mulheres sofrem no cotidiano, concedeu uma entrevista exclusiva para o Comitê de Igualdade Racial do Grupo Mulheres do Brasil Núcleo Distrito Federal, para a Campanha Tocando no Assunto.

Vilma Piedade é graduada em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Pós-graduada em Ciência da Literatura, autora do Livro “Conceito Dororidade”, publicado em 2017, pela Editora Nós. É palestrante e colunista, com dezenas de artigos publicados em várias mídias.

Confira a entrevista a seguir:

O que significa “Dororidade”?

Penso nas Mulheres e Jovens Negras. Somos estatística quando se fala no aumento do feminicídio na Pandemia. Ainda estamos sujeitas ao subemprego, à informalidade, à violência na periferia. E ainda, as mulheres e Jovens Negras são, em sua maioria, referências de sustento de família e muitas são mães solo. Como aponta Sueli Carneiro, falar de poder para as Mulheres Negras, é falar do ausente.

O conceito nasceu da minha inquietude frente à Sororidade, um conceito fundamental para o Feminismo. Mas, muitas vezes, não me sentia incluída. Vale destacar aqui, que um dos problemas do pensamento feminista foi perceber o Movimento Feminista como um bloco único, moldado para a Mulher ocidental, de classe média, instruída. Raça, diferenças culturais, étnicas não estavam na discussão da luta pelos direitos das Mulheres. Enquanto se reivindicava “o direito de trabalhar fora”, nós e nossas ancestrais já trabalhávamos fora há muito tempo.

No meu Livro Dororidade coloco: “Sororidade une, irmana, mas não basta. O que parece nos unir, unir todas as Mulheres, sem diferença de raça, classe, etnia, é a dor. A dor da violência que sofremos no cotidiano. A dor provocada pelo Machismo. Que atinge a todas as Mulheres. Mas Nós, Mulheres e Jovens Negras temos uma dor a mais. A dor provocada pelo Racismo.  Dororidade quer falar das sombras. Da ausência histórica.  Da invisibilidade”. Dororidade nasce na minha aposta, esperança, de ouvirmos mais umas as outras. Para construir um diálogo feminista com todos os tons de Pretas.  Inclusivo. Antirracista. E que Sororidade dialogue com Dororidade, sempre!

Qual o significado da interseccionalidade e de que forma esse tema tem importância no feminismo negro?

O livro “Mulheres, raça e classe”, de Ângela Davis, que reflete sobre a história do Feminismo Negro norte-americano é de suma importância para a compreensão do conceito de ‘Interseccionalidade’.

Seguindo o pensamento da Filósofa Feminista Ângela Davis, o Feminismo Negro, a partir da Intersecionalidade, compreende que as categorias de raça, gênero e classe não podem e nem devem ser compreendidas dissociadas.  Decoloniar, se desprender do padrão Eurocêntrico, é necessário nas práticas e ações do Feminismo Negro, e acrescento, dos Feminismos.

Carla Akotirene, no seu Livro “O Que é Interseccionalidade”, reflete sobre as opressões e a intersecção das mesmas, principalmente, em relação à Mulher Negra. A ‘Interseccionalidade’ desconstrói a ideia de um Feminismo Global e Hegemônico. Aí entra raça, gênero, classe e o Feminismo Negro.

O que é ser antirracista?

“Não basta não ser racista. É necessário ser Antirracista”. Quando Ângela Davis nos coloca frente a essa reflexão, parece que nos deparamos com algumas questões. Vejamos! Racismo tem a ver com a opressão, já sabemos, mas e os privilégios? 

Entendemos a ‘branquitude’ como um sistema de privilégios. Para fazer a discussão antirracista, faz-se necessário fazer a escuta, observar onde estão os maiores indicadores econômicos, educacionais, sociais.

A discussão e luta antirracista se dá na perspectiva de tentar ampliar esses privilégios para diminuir as desigualdades. É importante a adesão de pessoas que ocupam esse lugar de privilégios na discussão antirracista, por meio de ações que reflitam melhoria e inclusão no mercado de trabalho, na educação, na vida!

Ações práticas que consigam diminuir as desigualdades no cotidiano. Desigualdades que a pandemia nos mostra a todo momento. Momento triste. Contudo, vi um alento quando, no início da pandemia, e até hoje, várias redes de solidariedade se formaram e vimos a Sororidade amenizando a Dororidade, distribuindo kits de higiene, cestas básicas, enfim, empatia em prática. Agora, mais do que nunca, precisamos ter esperança em dias melhores!

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